terça-feira, 2 de julho de 2013

O AMOR (OU NÃO) NOS TEMPOS DA INTERNET - parte 5 de 6

. Textos by Samanta Hilbert e Paulo Nunes..




Ele:

Gosto do teu punch. E, na boa, respeito.
Mas vou te dizer uma coisa: paguei um preço muito alto por ser radical. Sincero eu sempre fui. Nunca deixei de cair de cabeça nas coisas que eu queria. Me apaixonei muito. Sofri muito. Mas o tempo passou. Então fui fechando uma a uma as portas pra me preparar para o meu recolhimento, do qual estou saindo agora.

Quanto mais complexa nossa personalidade, mais complicada, mais difícil, mais problemas, porém mais rica. Conteúdo.
A questão é que quando queremos voltar, não queremos reabrir todas essas portas. Queremos apenas alguns raios de luz na nossa sala. Mas as coisas não são assim tão simples. De porta em porta, de janela em janela, vamos reabrindo e deixando a luz entrar e inundar de novo toda nossa casa. Não dá pra ser tão seletivo, não dá pra deixar apenas alguns raios de luz entrar. Você quer ser seletiva. Já te digo que não dá certo, pelo menos pra pessoas como nós.

 Minhas portas estão todas abertas. E sei que quem ficar vai ser quem quer ficar. Não vou restringir mais nada, não vou deixar de fazer nada que eu queira, não vou deixar de levar em consideração quem habita ou visita este meu templo. E como te falei, respeito o que decidires.

 Mas se uma hora você pensar bem, se um dia quiser fazer um piquenique na praia, tomar um vinho e ser acalentada, saiba que eu estarei à disposição, desde que não seja diante de uma condição que você quer impor...


Ela:


Ok, ler isso me deixou brava...e continuo ficando brava quando releio...
Eu concordo com o que você diz em parte... Acho que me incomoda o jeito que você está dizendo... Fica menor.
E não concordo com 'já te digo que não dá certo'... Não deu certo pra você, cara pálida...

(e o que você quis dizer com "pessoas como nós"??)

O que sinto quando leio, é que você está dizendo que respeita o que eu decidir, mas não está respeitando! Está na verdade querendo que eu faça o que você quer... (e com certeza, se eu estou agora me dando ao trabalho de te responder, eu quero o mesmo.. afff). E lá vamos nós pra mais uma queda de braço...

Você quer que eu entenda que você está certo, que as suas certezas sejam as minhas certezas, porque é assim para 'pessoas como nós'... Não existe 'nós'. Não deu tempo pra isso... E 'pessoas como nós' também me parece que não existe, já que temos muitas diferenças, e a escolha do modo de viver a vida é uma dessas diferenças.

Pode parecer meio cínico, mas pra mim, relações são feitas de trocas. E por troca entende-se que ambos têm algo a dar que o outro quer. Nosso encontro foi rápido, mas trouxe coisas boas para mim, e tenho certeza que trouxe coisas boas para você também. E agora me parece que eu continuo tendo algo que você quer, mas você não tem mais algo que eu queira. Então eu quero me afastar. Não estou dizendo que você não tem nada para dar, estou dizendo que você não tem nada que eu queira. Então, se permanecermos perto, só eu vou dar algo a você, e ficará desequilibrado, o que inevitavelmente levará a um rompimento mais radical e cheio de dores...
Mas, lógico, estou racionalizando para explicar... Nesse momento o que eu sinto e creio que isso é o que realmente importa, é uma não vontade de estar com você. Não com as condições (e que eu compreendo, mas que não são as minhas) que você colocou...

... enfim...


Acho que tá blábláblá demais...Nunca pretendi "prender" ninguém... Até porque não pretendo me manter presa nunca mais... Não é erro de português, realmente acredito que a única pessoa que pode se prender é ela mesma...
...enfim ... (de novo)...
Acho que isso aqui tá virando um workshop... e não era essa a proposta. A proposta era viver e deixar viver, mas cada qual respeitando o que se é na essência. Parece que achávamos que as nossas eram parecidas e não são...

Ele:
Tá, também estou achando muito blá-blá-blá, mas eu e você gostamos de escrever, então vou aproveitar estes meus últimos dias de "ócio criativo" e escrever mais algumas linhas. Portanto, dando continuidade ao nosso workshop…
Eu estou um sujeito sem graça. Quase um japonês, de tão sereno…
Tudo tem acontecido de uma maneira tão tranquila, que eu até estou estranhando.

O que eu vejo hoje é que esses estados alterados da mente, as paixões, que já me fizeram delirar, e que já me fizeram sofrer, hoje acontecem numa intensidade muito menor, pra não dizer que não acontecem mais, que se transformaram num outro tipo de sentimento, como uma droga que não fizesse mais o mesmo efeito.
Queremos algo que está na outra pessoa, ou algo que outra pessoa vai gerar na gente, e é natural que à medida em que já estamos com nosso caderninho cheio de anotações, sinta-se menos necessidade de ter mais coisas.

Estou apaixonado por você. Estou apaixonado pela sua voz, pela sua arte, pelo que você escreve. Daqui a pouco absorvo o essencial, e a paixão acaba, encontro até as coisas que não gosto em você, e o mesmo certamente irá acontecer contigo. E aí, o que se faz? Descarta-se simplesmente essa pessoa da nossa vida? Eu, sinceramente, acho isso uma tristeza, que a cada dia acontece mais e mais.

Eu, sinceramente, não gosto disso. Descartei ou me afastei de muita gente ultimamente. E aos poucos estou me reconciliando com todos, pelo menos os mais importantes, pelo menos com quem ainda é possível. Quero viver em paz. Fiquei um tempão sozinho, sofrendo com a solidão. Hoje me recuso a tirar alguém da minha vida, o que me parece mais compatível com a ideia de morte, e não de vida.

 Pela primeira vez não estou me atrapalhando com isso, porque estou tendo coragem de ser quem eu realmente sou, e acredite, não é fácil. Não quero magoar ninguém. Não quero relações promíscuas, nem superficiais. Ao contrário. Quero me aprofundar nas amizades, que essa sim é a melhor relação que podemos ter nos dias de hoje. 

É isso. E chega de palavras, que melhor do que elas é o que fazemos com elas.



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