sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Historinha




Era uma vez um homem muito bacana... Ele tinha muitas qualidades valorosas e também (já que esse não é um conto de fadas) tinha lá seus defeitos. Mas com certeza muito mais atributos positivos... Dessas pessoas do bem, sabe?

Esse homem era encantadoramente gentil. Ajudava sempre que podia (e às vezes até quando não podia) todos ao seu redor e assim, como era de se esperar, tinha muitos amigos. Era do tipo que prezava a harmonia nos ambientes, buscava ser diplomático e promover a paz por onde passava. Era também muito hábil e ágil, desses que têm disposição para tudo a qualquer hora, o que facilitava ainda mais o modo de viver que ele havia escolhido.

No outro lado da cidade, vivia uma mulher também muito bacana. Ela era inteligente e independente, muito emocional e profunda. Do tipo que não larga um questionamento até ter uma resposta (não necessariamente mental ou racional) que a satisfizesse. Com essas caracteristicas, uma das coisas mais importantes para ela, era a verdade profunda sobre as coisas. E ela também tinha lá seus defeitos.

Apesar dela igualmente ser uma pessoa dessas do bem, ambos eram muito diferentes. Não frequentavam os mesmos ambientes e não tinham amigos em comum... Nunca tinham se cruzado...

 Até que, graças ao mundo internautico que aproxima as pessoas mais diversas, se encontraram... Mesmo sendo tão diferentes, se apaixonaram um pelo outro... Ambos gostavam muito de rir. Tinham senso de humor e eram bem humorados até nas tragédias e isso em especial os aproximava.

Mas, lógico, as diferenças gritavam...

Ele era diplomático e gostava de harmonia. Então, vou dar um exemplo de como ele funcionava em um nível coletivo:
Quando um casal de amigos brigava, ele conversava com a amiga... ela dizia «DIZ PRA ELE QUE EU NÃO QUERO VÊ-LO NEM PINTADO NA MINHA FRENTE», o que ele traduzia para o marido dela 'olha, ela disse que precisa de um tempo'.... Quando o marido respondia «DIZ PRA ELA QUE EU NÃO QUERO NEM SABER» ele traduzia por 'ele disse que te entende'...

E isso funcionava muito bem, o casal se acalmava, voltavam, todos ficavam bem e o homem ficava feliz por ter ajudado mais uma vez.

Mas, entrando em um nível pessoal e íntimo, quando ele tinha exatamente as mesmas atitudes com a mulher com quem ele estava, isso soava diferente. Para ela, amante da verdade, e de resolver problemas fuçando e limpando e não contornando, isso soava como mentira.
Para ela, era como se ele não estivesse prestando atenção. Soava como desrespeito. Como se ele não estivesse escutando. E, se ela não era escutada, perdia a vontade de falar, e assim se afastava de sua verdade...

Sinuca de bico... Ele só conseguia dar para ela o que ela precisava e queria, deixando de ser ele... Ela só conseguia dar para ele o que ele queria e precisava abrindo mão de ser ela.
Era o caminho dele, ou o caminho dela. Não conseguiram achar o caminho do 'nós'. Não que não fosse possível a mudança... Eu não seria terapeuta se acreditasse que todos já estão prontos e não mudam. Mas ele gostava de ser com era. Ela também.

Ela percebeu isso mais rápido do que ele. E decidiu pelos dois: guardou o carinho que sentia em uma caixa no baú das preciosidades, e se despediu... Com a certeza de que tudo está certo como está. Porque só se consegue ser feliz e íntegro quem escuta e vivencia a voz de sua alma. Sua verdade pessoal...

Fim





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