domingo, 12 de março de 2017

A criança que me tornei



Tem uma criança ferida que mora dentro de mim...
A criança que mora em mim era solitária. Diferente dos outros. E eu aprendi a ser empática e a descobrir o que os outros sentiam.
A criança ferida se refugiava nos livros e gibis, nas histórias do incrível. E eu aprendi a ser criativa.
Ela se lembra dos olhos preocupados da mãe deixando-a sozinha em casa... e eu aprendi cuidar de mim. Ela mudou de país sem conhecer a língua, foi parar em um prédio onde moravam indianos, franceses, gregos, chilenos árabes e libaneses. E eu aprendi a manter a mente aberta.
A criança correu pro vizinho pra pedir ajuda enquanto seu pais brigavam, presenciou traições e comportamentos abusivos. E eu, por muito tempo não consegui desaprender a me defender, proteger demais e tentar resolver tudo através do pensamento.

Relacionamentos são espelhos. Eles trazem o que está sendo revelado por dentro, para ficar mais fácil da gente ver... Todo envolvimento fala na verdade da relação de mim comigo mesma.
Tenho gostado do que tem acontecido na minha vida emocional.

Quando eu encontro olhos que riem, e vejo no espelho meus olhos que riem também, eu relaxo. Boto a criança assustada no colo e digo pra ela "não te preocupa, a gente está aprendendo mais um pouco, tá na hora!". E quando ela lembra de alguma coisa muito ruim e quer correr pra se esconder de novo, eu digo "sinto muito, me perdoe, te amo, sou grata" ... porque essas lembranças e crenças não tem mais lugar no meu agora.

A criança que mora em mim é bem frágil. Mas gosto muito da mulher que me tornei justamente por  tudo que ela viveu. Construiu a mulher com uma história, e a mulher pode transformar..... transformar sentimentos, lembranças, limites. A criança que agora mora em mim se entrega mais e confia no que a vida traz... brinca.



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