domingo, 21 de agosto de 2016

Escutadora de histórias

Algumas pessoas já sabem que meu nome, Samanta, vem do hebraico, e significa "aquela que escuta".

E de fato tenho feito jus ao meu nome.... Ao longo da minha vida e não só por conta da minha profissão (mas também por) tenho colecionado histórias que me tocam profundamente, e que guardo às vezes por anos até entende-las completamente, ou achar o lugar de cada uma dentro de mim. Decidi hoje começar a contar algumas delas....

Nem sempre lembro de que boca veio...

Essa de hoje, a impressão que tenho é de uma voz sonora de um senhor de meia idade contando e olhos embaçados pelas lembranças, mas não me recordo do rosto ou da identidade do autor....

Ele me contou que teve uma infância mais para remediada... Família a moda antiga, com várias bocas para comer e uma só fonte de renda, seu pai. Este senhor sentava à cabeceira, e sempre era o primeiro a se servir, pois era autoridade na casa e fazia questão de demonstrar isso com certa autoritarismo.
Quando era frango no almoço, servia-se do peito, que era a carne nobre e mais gostosa da ave, segundo ele mesmo. E na sequência todos serviam-se juntos, pegando o que podiam.
Os anos passaram, ele cresceu, o pai ficou doente e ele, como filho mais velho da casa assumiu a responsabilidade de provedor da família.

E chegou o dia que o pai, ainda sentado à cabeceira da mesa diante do frango servido disse "filho, agora você tem o papel mais importante dessa casa, você nos sustenta a todos, o melhor pedaço pertence por direito a você. Sirva-se primeiro"

Depois de passado o primeiro susto de ver seu pai sempre tão orgulhoso abrir mão de seu brio e vestir-se de humildade, contou que veio um carinho enorme pelo velho. Naquele instante entendeu que o ancião lhe dava uma herança de altivez e justiça. E o pai pulou da figura inatingível que tinha até então no seu imaginário, para alguém que tinha desempenhado o melhor possível o papel que achava que lhe cabia. Alguém que era capaz de construir pontes.

É claro que ele declinou do pedaço de peito, até porque após tantos anos comendo asa e coxa, seu paladar gostava mais dessas partes mesmo (no que aliás eu concordo!), mas também por ter adquirido, naquele instante, um respeito novo pelo ancestral. O respeito através do medo tinha se transformado em respeito por admiração....



familia... que bom que os conceitos mudam com o passar do tempo....


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