domingo, 24 de fevereiro de 2013

Guerreiros e amantes



"Na guerra dos tolos o mais forte belicamente vence, na guerra dos sensatos, o mais forte se deixa vencer. (...) Na ausência de força, os golpes são sutis, e na leveza de um golpe certeiro o oponente cai de pé. Se rende diante da virtude do outro.
Humildade, simplicidade, lealdade, sinceridade, verdade são golpes de extrema sutileza, mas de grande precisão. Você conseguiu ver por entre minha armadura cheia de sangue, sem brilho, encoberta pela dúvida e pela mentira, uma alma benevolente contida nesse corpo bélico (que você chama de tratorzão). (...)
Você me derrotou, me parou, estou amargando essa derrota, mas tenho esperança que essa oponente capaz de me fazer cair de joelhos com sua leveza e sutileza, tenha capacidade de me devolver à vida."*


Relendo essas palavras, me dou conta mais uma vez que andei sendo tão mais guerreira e tão menos amante nos últimos tempos...
Mesmo quando se é guerreira na sutileza ( e não creio que eu seja tão sutil quanto quis fazer parecer o autor das palavras acima - ele devia estar com o olhar ludibriado pelos "gostares"), continua-se sendo guerreira... Luta-se. Luta-se para sobreviver, pela oportunidade de mais um dia. Luta-se para superar um desafio. Luta-se para proteger os seus. Luta-se pela resposta de um dilema. Luta-se para transformar um sentimento. Luta-se até para conseguir amar.
Lutar passa a fazer tão parte da vida, fica tão habitual, que a leitura do mundo passa a ser por esse prisma... E mesmo quando já não existe mais motivo para permanecer "prasempremente" nesse papel, ele não desgruda... Tudo é encarado na perspectiva do guerreiro... com seriedade,  finalidade, meta... Até as brincadeiras são brincadas com um objetivo... A "causa" é boa demais... (será mesmo? Acho que não...)

Recentemente uma tormenta me fez ver o quanto eu estava cristalizada na minha guerreira... E comecei, porque escolhi experimentar, a fazer coisas de amante (não só, mas também...). Coisas que a finalidade é... bom, nenhuma específica, só pelo querer...
Passar horas no telefone jogando conversa fora com alguém interessante... Dançar sem ser para se exercitar... Cheirar cheiros novos... Paquerar alguém que não existe a mínima possibilidade de "dar certo", só porque ele traz idéias interessantes... ou diferentes... ou só pra deixar ver onde vai levar... Estudar magia e não só psicologia/terapia/energia... Ir na praia olhar o mar...ou sentir a areia no pé... ou procurar formas em nuvens...Escutar música de barriga pra cima pensando em nada...

Amantes amam, se entregam, vivem o que a vida traz...

E, essa semana, fui fazer um piquenique na praia, à noite. Depois de uma semana exaustiva, onde eu estava quase explodindo de cansaço...E quase abortei o plano na última hora... Pra ser amante também tem que ser decidida... rs... Esse dia, eu fui 'amante' mesmo. Joguei fora o bom senso, calei todas as vozes da minha coerência, só escutei o que meu 'ser' queria. E fiz exatamente o que queria. Sem máscaras, sem meias verdades... E fui recompensada por uma noite de "plenitude sem fulminação" (como diria Clarisse Lispector). Eu sei que é uma simples praia a noite. Mas olhando com os olhos de enxergar, em um dado momento me percebi com os cinco sentidos totalmente ativados, o corpo relaxado, a alma alimentada. Me percebi feliz... Um piquenique com tolha xadrez e tudo, um vinho ótimo, uma boa cia, vento gelado nas bochechas, umas gotículas de chuva, o foda-se ligado, um perfume que eu gostei, areia por todo lado... e ... fiquei feliz...

A guerreira está aprendendo a, de quando em vez, relaxar (espero!)... que venham mais plenitudes sem fulminações!







* Trecho de uma carta escrita por Clécio Henrique para mim, em 2011

3 comentários:

  1. Chega um certo momento que a guerreira precisa descansar em sua tenda. Olhar a noite, sair dos campos de batalha para dentro de si mesma. Conversar com a alma do mundo e sentir sua energia. Ela sabe que, antes mesmo de ser guerreira, é feminina; é mulher; foi destinada a ser amada...

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    1. "Dentro de si mesma" pode ser o maior dos campos de batalha... Foi isso que andei descobrindo e modificando... Ajustando uma maneira de entrar, sem lutar. Só aceitando e aproveitando o que vem.
      ...se o destino de toda mulher é ser amada? Bom, se for isso o que vier, amarei também...Talvez plenamente pela primeira vez na vida...

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    2. Pra mim também é assim, o maior desafio sempre foi "eu comigo mesmo". minhnha maior batallha durou aproximadamente 3 meses e quase pus tdo que mais prezo a perder a desperdiçar tempo na épica luta eu versus eu mesmo.

      e como é bom voltar os passos para o verdadeiro caminho.
      como é bom deixar de ser um encarcerado a olhar somente um túnel amargo e tao longe do que sou.

      que as mulheres guerreiras encontrem sempre a paz legítima; que os encarcerados dentro de um ciclo errado possam respirar com sua essencia tao lgo seja possivel.

      abraços.

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