domingo, 3 de junho de 2018

Novas formas de mulher


Quando as novas formas de mulher começaram a surgir no meu corpo adolescente, lembro de não sair da frente do espelho...
Na rua eram camisetões largos, agasalhos, casacos com capuz e tudo o que fosse possível para esconder o que tão surpreendentemente eu descobria de mim. Em casa, passando a porta hermeticamente fechada, meu quarto parecia um camarim de teatro. Se não, um de bordel...
Maquiagem carregada, batons entre tons de vermelho e roxo, quilos de rímel, esmaltes com corante dentro para serem transformados nos coloridos que não existiam na época. Muitas roupas inventadas... e MUITA dança em frente ao espelho! Horas gravando em fitas k7 músicas paridoras de coreografias elaboradamente sensuais e nunca executadas em público.

Mal sabia eu naquele tempo o quão saudável estava sendo. Ao me maquiar, vestir e dançar pra mim mesma, permitia que a expansão dominasse, que minha pele, olhos e movimentos me ajudassem a destrinchar a carga pesada de hormônios liberados no meu corpo em mutação. O olhar firme que o espelho me devolvia, compensava a cabeça abaixada e envergonhada frente aos olhares que eu começava a atrair, nem sempre delicados ou afetivos.
No meu quarto trancado eu treinava confiança, liberdade, amor próprio e sedução. Me apaixonava por mim mesma. Brincava de me bancar. E me dava tempo de crescer...
Já nascia em mim a vontade do autoconhecimento que me move até agora. E a pequena revolucionária que mora na minha barriga despertou de uma vez por todas pra nunca mais adormecer.

Lembrei disso nesse domingo: novas curvas lapidam minhas carnes mais uma vez. Ao me aproximar dos 50, uma nova onda de revoluções internas chega. O ciclo do desconhecido  recomeça...
O olhar no reflexo é bem mais firme, a timidez foi esquecida há muito pelo caminho substituída por uma postura observadora, bem humorada e um tanto irônica. Mas começo a adoçar novamente... Já aprendi há muito sustentar olhares provocantes e famintos. Dos que gostei, juntei-me ao banquete. Porém à gula, hoje misturam-se agora suspiros, sorrisos e uma entrega que me faz fechar os olhos vulneravelmente. A preguiça de brigas se faz mais presente... o mundo não é mais feito a ferro e fogo, e sim de fogo derretendo os metais...
No dia a dia corrido e cheio de tarefas, quando vejo estou parando pra sentir o cheiro da maré, ou a cor do céu. e hoje.... bem.... hoje me peguei cantarolando músicas do meu repertório especial que me ninam a alma...

O espelho físico continua o mesmo. Carreguei-o comigo através de casamento, nascimento de filhos, separações e mudanças de casas. Não tenho espaço suficiente pra dançar na frente dele no meu quarto, onde ficou.
Mas, hoje mudei-o para a sala, bem ao lado do som, dancei E gravei em vídeo! Mas não vou mostrar pra você não! rs

Samanta Hilbert


segunda-feira, 7 de maio de 2018

O AMOR (OU NÃO) NOS TEMPOS DA INTERNET



Uma reflexão sobre o quanto conseguimos viver nossa verdade pessoal e afetiva em um mundo cada vez mais virtual
(conto de Samanta Hilbert, contribuição de Paulo Nunes)







CAPÍTULO 1-

Ela:
"Você tem 1 nova solicitação de amizade"
 ... Putz, quem é esse agora? Deve ser mais um desses malas ... Tá, mas por via das dúvidas, deixa eu ser gentil... vai que é amigo de alguém ou um possível paciente...
Hummmm...Vou mandar a clássica:

- Oi, desculpe mas não lembro de você. Nos conhecemos?

-Sim, nos conhecemos da net mesmo, lembra? Como estás?
Uau... 3 mil anos atrás???? kkk
- Ah, uns dois mil, vai..
- rs

Vou ser sincera... pela foto não lembro não... Mas beleza, conheço de novo!! :)

- kkk
- Bom, acho q eu envelheci... rs

- Ah, essa minha foto aqui tbém é de 2 anos atrás... ... Alguns amigos estavam pegando no meu pé pra botar foto de biquini e desencavei essa...
- rs
- Todo mundo envelhece...
- bom, mas eu não consigo ver o biquini... rs

 - :s
Justamente!!!

-kkk
-você continua muito espirituosa...
- É um grupo que tenho faz uns anos já, então rola umas brincadeiras de quem, mesmo virtualmente, já se conhece.
- rs... obrigada...
- Estou de bom humor...
- Isso é bom. demais
:)

- Eu e tu nos conhecemos por site de relacionamento?

- Sim, acho q sim
- ..rs...Ai meu passado negro me condena...
- Olha o racismo! kkk
- Mas esses sites de relacionamento, vou te contar, nunca rolou nada... Pra mim pelo menos não!
- Eu fiz dois grandes amigos (reais agora) e namoriquei um terceiro

- Já é alguma coisa...
- Namoriquei = namoramos, mas não tinha esse nome...Pra mim era namoro, pra ele não...
- Ah, então você ficou... rs

- Bom, nos víamos todos os dias, ele dormia na minha casa uns 5 dias por semana.  Pra mim é namoro!

 - Sei como é
 -Tenho passado por situações assim... rs
- E quem é que não quer chamar de namoro? Você ou elas?

- Dia desses uma moça me disse que não estava preparada para um relacionamento, que precisava ficar um tempo sozinha, não era nada comigo, era com ela...

- kkkkkkk... Então você sabe como é...


- Fiquei pensando... mas essa frase não era minha? kkk
- Pensei nisso também... 'xi, inverteu o papel de vez'...
- Pera aí.. você é a pessoa que vivia no meio do mato,  em uma vibe meio zen??
- Delicia... sim! o ermitão!

Ooooiiiiiiii \o/

- Caiu a ficha agora? rs
Putz... puxannndo pela memória... vamos ver o que vem... rs... talvez não seja muito...rs... sorry....não é nada com você é comigo... kkkk
- Não comece, por favor kkk
- rsrsr... Piadinha só

- Entendi. também estou de bom humor, aliás, sempre estou

... Lembro um pouco... não conversamos muito na época, né?

- Não, a gente ficava só se observando... rs


............
....................
............................. Pensamentos............................
Ela:
O que faz com que a gente se encante pelo impalpável?
Procuro uma resposta, dentro das sombras e luzes que sou...
O que faz eu me apaixonar por mentes? 
Talvez uma maneira de fugir de um "nós" real, palpável, compatível de fato? Fugir do possível? 

Vejo um caminho, dentro do que é luz, que desdiz isso... Que encontra essências no que é mente... Que brinca, aproxima, entra com os dois pés sem medo, em algo que cheire a valer a pena...

E o de sombra, inquieto, do qual eu só sussurro sobre, de tanta vergonha, que me conta histórias feias...

Que conta que eu já me apaixonei por uma voz, por uma mente, por uma daquelas histórias de conto de fadas que eu adorava ler quando criança... Que eu, por um momento quase eterno, quis ficar agarrada no sonho, abraçada na imaturidade...


E a luz me salva. Me lembra que gosto demais de mim pra conviver com coisas que não dou conta. Que não é preciso sofrer primeiro pra depois receber a recompensa, nem matar a bruxa ou o dragão pra merecer o happy end. Que contos de fadas, na verdade são filmes de terror disfarçados, o mundo dividido entre bem e mal, onde o mocinho seja ele príncipe ou ogro, só faz o bem e tem personalidades que não existem! Que é uma hora e dez minutos de sofrimento para 5 minutos de êxtase. 

Não quero só sonhos! 
Nesse presente que estou inaugurando, quero realidades... Nessa nova vida onde estou engatinhando, mas querendo muito aprender a andar e até correr, escolho encantar o que é possível ... E escolho atitudes! Atitudes diferentes das que já tomei até hoje...


Ele:

Esses últimos anos foram um longo túnel escuro... Preso em um trabalho que estou exausto de estar. Sem casa, sem dinheiro, sem mulher. Nenhuma mulher quis nem chegar mais perto e homem sem mulher é que nem pato manco... Falta sempre algo. E tudo deu tão errado nos últimos anos que foi assim. Cheguei no fundo do poço, redecorei o fundo do poço. Me enterrei no fundo do poço. Virei um esqueleto de pinto mole. E desisti. Várias vezes nesse tempo quase deixei de existir. Mas nos momentos mais críticos, sempre havia alguém lá me estendo a mão, mesmo que só por um momento. Então fiquei.

Já vi de tudo, já fui em todos os lugares que queria. Agora só quero paz. Só quero um lugar confortável pra ficar e quem sabe um seio farto ao lado pra me aconchegar.

Agora as coisas estão começando a ficar melhores. Estou começando a voltar. Paguei um preço por isso. Agora sou um sujeito sem graça. Calmo como um japonês... Nada me abala demais, nada me mobiliza demais. Não nego mais meus monstros, deixo todas as portas abertas e destrancadas, mas eles escolheram ficar quietos, guardados num quartinho do porão por vontade própria.

Não consigo sentir que eu possa me apaixonar novamente. Só sinto que estou bem. Mas pode melhorar...


CAPÍTULO 2-

Ela:


Oi!
...então... vamos parar de 'chat ear' e nos conhecer pessoalmente finalmente?

Como está teu fim de semana?(estou trocando os papéis.... kk)

beijos!


..............


Ele:

- Te liguei. vou sair daqui as 7, tá? beijos


...............


- Estou preso em um engarrafamento. Não consigo ir pra frente nem pra trás, o trânsito está totalmente parado. E pela primeira vez na minha vida perdi o telefone. Desculpe!

- Pela primeira vez na vida??? rs ...
- Bom, que pena...
- Sabe? Não consigo  não fazer um paralelo com as atrapalhações da Bridget Jones... Já estava me sentindo meio dentro do diário dela hoje, com essa, mergulheeeeiii nele... rs
..................
-Ufa, tá puxado!
- Chegou em casa já?
-Sim, estou em casa agora
-Olha, eu nunca vou a lugar nenhum sem meu celular, não sou de perder as coisas, mas desta vez deixei o celular aqui. No caminho, fui vendo o engarrafamento que estava na outra pista, e achando que ia ser fácil chegar aí...
- Mas logo em seguida o trânsito parou e assim ficou... imagina, eu levei quase 3 horas pra andar pouco mais do que 20 km
 - Então quando me dei conta de que estava sem o celular, e não tinha teu número de cabeça, fiquei pensando como ia fazer pra te ligar... ia parar na rodoviária, entrar na lan house pra te encontrar aqui no face ou pegar teu numero... foi o que eu fiz, mas quando já tinha desistido, porque eu nunca fiquei num engarrafamento assim... parado!

 - ...acho que é nossa sina não nos conhecermos.... :p
- Pois é, fiquei pensando muito nisso

- Ficou??? (eu estava brincando...) kkkk
- Puxa, eu estava ansioso, mas chegou uma hora que a ansiedade já tinha dado lugar a angustia... se eu não tivesse esquecido o celular nada disso tinha acontecido, a gente ia se comunicando...claro q a minha preocupação era falar o quanto antes contigo.
- É a maldição da Bridget Jones....
- Depois vou te contar uma historia que aconteceu, pra você ver q o problema não é você, sou eu... kkkkkkkkkk
-Pensando em tudo o que aconteceu ( inclusive os contratempos...hehe) e cheguei à conclusão que você é atrapalhado, mas gostei de ti! rs . Gostei do papo direto e reto...
 
Ele:

Já acho esse mundo muito maravilhoso, o lugar que a gente vive, as pessoas, minha família, meus amigos, eu adoro tudo isso. Acho que as pessoas que reclamam não sabem o quanto podem ser felizes, mas é claro que eu quero um mundo ainda melhor, disso não há duvida. E sou meio grosso até, quando a pessoa vem com nhem nhem nhem eu já vou falando logo: vai reclamar de que?
Acho q a gente tem que ver o nosso lado, porque se a gente não se amar, nada acontece.
Eu também gosto do nosso papo direto e reto!

Sinceramente, eu não sou atrapalhado, mas eu estou atrapalhado. Estou meio enrolado com uma pessoa, mas cheio de sinais ambíguos.  E não sei o que fazer, simplesmente assim... ontem me convidaram para participar de uma banda de rock na sua cidade... e uma amiga está querendo montar um negócio comigo na minha cidade... Tem um monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo, eu estou numa fase fértil!!!
Ontem uma ex veio me perguntar se eu estava namorando, eu disse que sim pra abreviar a conversa, mas depois fiquei pensando... Eu namoro uma menina, mas não sei se ela me namora... Os sinais contraditórios continuam a me chegar,  tem pessoas que são assim, o que podemos fazer? Diferente de nós  que sabemos o que queremos, somos sinceros e decididos. Então, quero ser bem sincero... De qualquer maneira, independente desse meu rolo, que nem sei aonde vai chegar, se é que vai chegar ou se é que vai rolar, acho que a gente tem que se conhecer. Tomar um café e passar pro próximo estagio. E vou descobrir se estou namorando. Se estiver, vou aí ver você nem que seja só pra quebrar nosso azar, caso contrário, vou ai pra paquerar você. Tá?



CAPITULO 3


Ele / Ela :


- Que tal nos encontrarmos antes do findi? Estou de bobeira esta semana...

- Hummm... tá!

- Vamos tomar um vinho?

- Olha, o único dia que tenho livre a noite é quinta...

- Amanhã, certo? Pra mim tá ótimo!
- Se estiver uma noite quente, podemos tomar vinho na praia, se o tempo estiver chuvoso ou muito vento a gente vai tomar chopp num boteco. O que acha?

-Perfeito!

......
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.......................Impressões..........................


Ela:

Perfeito... Foi mesmo um primeiro encontro perfeito... Nada a mais do que precisava, nada a menos. Valeu a noite, o vinho delicioso, a praia, o vento, os beijos tímidos e o cheiro... Estava precisando de tudo! Aahhhh!!! e valeu a toalhinha xadrez... rs... realmente clássico!

Eu sempre fiquei feliz com pequenas coisas... ano passado foi um ano difícil, onde eu tive pouco tempo de estar bem...é bom ficar feliz novamente com essas coisinhas pequenas e importantes...

Ele é diferente do que tinha imaginado... mais leve, mais "amplo" do que eu achava... Conversa boa, inteligente... Mais solto... Tinha imaginado ele sossegado, quase baianesco, mas não, ele é até um pouco inquieto...


Ele:
Adorei tudo! E a achei distinta do que eu imaginava, pra falar a verdade melhor do que eu imaginava
Acho que estamos passando por momentos parecidos. Não só o ano passado foi difícil, não foi ruim, foi difícil, e parece que agora tudo está tão fácil... Estou muito disposto a aproveitar muito esta vida, e ontem foi um dos ótimos momentos

Ela perguntou se eu me sentia o cara bonzinho que sempre foi deixado de lado. Não me sinto desamado, o que está faltando é alguém legal pra amar... ou seja, estou encontrando pessoas muito aquém do que eu quero, e ela parece-me que é a feliz exceção...



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.................
.........



-Oi! Olha só, eu ia viajar esse fim de semana, mas não vou mais... quero ir aí te ver!

-É? Nossa! Então... Eu já tinha combinado de ir na casa de uma amiga hoje... Adorei tudo ontem, mas eu realmente fiquei com o sono atrasado...

-Mesmo? pôxa que pena...
-...

-Ah, quer saber? Se você topar ir pra minha cozinha, alguma coisa light assim, pode vir...




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.......................
..................................Pensamentos..........................




Ela:

Ansiedade e pressa. Ah e claro, carência... inimigos mortais de eu me manter em meu centro, e não me perder de mim. Pelo menos comigo é assim...

E nesse mundo internautico ainda tem o agravante da imaginação... Eu me apaixono por mentes. Mas preciso do resto todo pra sustentar isso... E na frente da telinha o resto fica etéreo... Quase parece que nem importa... Afinal, como diz o outro, a mente e o facebook tudo aceitam. A afinidade de mentes parece ser a tradução de uma afinidade total...

O quanto a internet funciona como a poção do amor que Tristão e Isolda tomaram? Tristão era o sobrinho do noivo de Isolda... Foi busca-la para o tio, e acabou tomando a poção por engano, assim como Isolda... E a partir daí o resto todo foi tragédia... A partir do momento que perdemos o contato com a realidade, o resto é ilusão...

Então é importante o olho no olho... mas o olho no olho já com as expectativas deturpadas não adiantam muito, não é? E juntando com a maldita pressa, realmente faz um booolo só... Intimidade leva tempo para construir... E com as intensas conversas virtuais, parece que existe uma intimidade que na verdade não está lá... O troço fica mesmo esquisito...



CAPÍTULO 4

....................
............................
...................................aprofundando..............................


Ele:

"Errando mais do que acertando,
aprendendo mais do que ensinando,
vou vivendo mais do que sonhando.
Nem sempre tendo certeza,
mas, sempre acreditando,
vou levando a vida
com a alma limpa e o coração puro."


Adorei você. Só não consigo digerir o que estou sentindo. Meu lado "amante" só consegue degustar o que está na minha boca. Veio tudo ao mesmo tempo… como a colheita que chega quando plantamos as sementes que vicejam. Cheguei a pensar em te fazer uma proposta indecente, mas achei melhor ser sempre sincero. Mesmo me sentindo um otário. Mesmo me sentindo o cara que chega tarde. Mas vivendo em paz.

Estou num contexto. Quero continuar morando aqui. Quero viver o possível. E sei que as escolhas vêm sempre acompanhadas das renúncias. Quem diria, eu fiquei velho!

E de todas as coisas boas que a idade nos traz, a melhor são as certezas que aprendemos a reconhecer. Uma delas é a de que não existe conquista sem a sua contrapartida, a sedução. É como se fossem os dois lados de uma mesma moeda. Uma não pode existir sem a outra. Outra certeza é o fato de que nada pode ser bom apenas para alguém. Isso não é coisa entre duas pessoas. Portanto, depois de um tempo não faz mais sentido perguntar "foi bom pra você", porque se não foi bom pra você, não vai ser bom pra ninguém.

Eu adorei o nosso piquenique, e não acho que tenha sido apenas uma praia à noite. Foi um longo caminho até aí. E como todos os passos que nos levam a novos caminhos, sempre desconhecidos, cá estou, com minhas escolhas, de novo diante do desconhecido, eu e minhas dúvidas. Mas uma coisa de que eu tenho absoluta convicção é que não quero deixar de fazer parte da sua vida e que você faça parte da minha, da maneira que você considerar melhor. Pode ser?



Ela:

 Eu estou meio confusa com o que você tem me dito... Você diz que não quer ficar com alguém que não more na sua cidade, mesmo que seja perto... E diz que me quer na sua vida.
Não acho que nesse momento caberia sermos amigos, e não quero um amor difuso. Ou seja, gosto de você, mas não gosto de nada dessa situação.
E tem mais...

Se você  quer saber, todo meu lado "guerreira" me diz que tenho uma boa chance de "ganhar" essa, com a estratégia certa. E é tudo que não quero. (sendo mais sincera do que deveria ser). Não quero seduzir ninguém.

Tudo o que eu quero é alguém que queira estar comigo tanto quanto eu queira estar com ele, e ver no que vai dar. Só viver, sem roteiro pré-estabelecido. Sem pressão. Sem calcular passos. Podendo ser "verdades". Acho que eu quero mais do que o possível. Quero o improvável que acontece. Sabe? A chuva que não cai, mesmo trovejando aquilo tudo? A pessoa que é melhor do que se esperou?

E (isso você já sabe) tentaria  na booooa... rs. Mas sua escolha é outra, e eu ficar por perto te cutucando não acho que vá contribuir pra você estar inteiro onde quer que você queira estar.
Então minha resposta é não (primeiro não que te digo?). Não pode ser. Não vou ficar por perto. Vou deixar você tentar de verdade a sua verdade. E vou fazer de verdade o que me propus. Acho que é assim que se é gente.


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CAPÍTULO 5

Ele:

Gosto do teu punch. E, na boa, respeito.
Mas vou te dizer uma coisa: paguei um preço muito alto por ser radical. Sincero eu sempre fui. Nunca deixei de cair de cabeça nas coisas que eu queria. Me apaixonei muito. Sofri muito. Mas o tempo passou. Então fui fechando uma a uma as portas pra me preparar para o meu recolhimento, do qual estou saindo agora.

Quanto mais complexa nossa personalidade, mais complicada, mais difícil, mais problemas, porém mais rica. Conteúdo.
A questão é que quando queremos voltar, não queremos reabrir todas essas portas. Queremos apenas alguns raios de luz na nossa sala. Mas as coisas não são assim tão simples. De porta em porta, de janela em janela, vamos reabrindo e deixando a luz entrar e inundar de novo toda nossa casa. Não dá pra ser tão seletivo, não dá pra deixar apenas alguns raios de luz entrar. Você quer ser seletiva. Já te digo que não dá certo, pelo menos pra pessoas como nós.

 Minhas portas estão todas abertas. E sei que quem ficar vai ser quem quer ficar. Não vou restringir mais nada, não vou deixar de fazer nada que eu queira, não vou deixar de levar em consideração quem habita ou visita este meu templo. E como te falei, respeito o que decidires.

 Mas se uma hora você pensar bem, se um dia quiser fazer um piquenique na praia, tomar um vinho e ser acalentada, saiba que eu estarei à disposição, desde que não seja diante de uma condição que você quer impor...


Ela:


Ok, ler isso me deixou brava...e continuo ficando brava quando releio...
Eu concordo com o que você diz em parte... Acho que me incomoda o jeito que você está dizendo... Fica menor.
E não concordo com 'já te digo que não dá certo'... Não deu certo pra você, cara pálida...

(e o que você quis dizer com "pessoas como nós"??)

O que sinto quando leio, é que você está dizendo que respeita o que eu decidir, mas não está respeitando! Está na verdade querendo que eu faça o que você quer... (e com certeza, se eu estou agora me dando ao trabalho de te responder, eu quero o mesmo.. afff). E lá vamos nós pra mais uma queda de braço...

Você quer que eu entenda que você está certo, que as suas certezas sejam as minhas certezas, porque é assim para 'pessoas como nós'... Não existe 'nós'. Não deu tempo pra isso... E 'pessoas como nós' também me parece que não existe, já que temos muitas diferenças, e a escolha do modo de viver a vida é uma dessas diferenças.

Pode parecer meio cínico, mas pra mim, relações são feitas de trocas. E por troca entende-se que ambos têm algo a dar que o outro quer. Nosso encontro foi rápido, mas trouxe coisas boas para mim, e tenho certeza que trouxe coisas boas para você também. E agora me parece que eu continuo tendo algo que você quer, mas você não tem mais algo que eu queira. Então eu quero me afastar. Não estou dizendo que você não tem nada para dar, estou dizendo que você não tem nada que eu queira. Então, se permanecermos perto, só eu vou dar algo a você, e ficará desequilibrado, o que inevitavelmente levará a um rompimento mais radical e cheio de dores...
Mas, lógico, estou racionalizando para explicar... Nesse momento o que eu sinto e creio que isso é o que realmente importa, é uma não vontade de estar com você. Não com as condições (e que eu compreendo, mas que não são as minhas) que você colocou...

... enfim...


Acho que tá blábláblá demais...Nunca pretendi "prender" ninguém... Até porque não pretendo me manter presa nunca mais... Não é erro de português, realmente acredito que a única pessoa que pode se prender é ela mesma...
...enfim ... (de novo)...
Acho que isso aqui tá virando um workshop... e não era essa a proposta. A proposta era viver e deixar viver, mas cada qual respeitando o que se é na essência. Parece que achávamos que as nossas eram parecidas e não são...

Ele:
Tá, também estou achando muito blá-blá-blá, mas eu e você gostamos de escrever, então vou aproveitar estes meus últimos dias de "ócio criativo" e escrever mais algumas linhas. Portanto, dando continuidade ao nosso workshop…
Eu estou um sujeito sem graça. Quase um japonês, de tão sereno…
Tudo tem acontecido de uma maneira tão tranquila, que eu até estou estranhando.

O que eu vejo hoje é que esses estados alterados da mente, as paixões, que já me fizeram delirar, e que já me fizeram sofrer, hoje acontecem numa intensidade muito menor, pra não dizer que não acontecem mais, que se transformaram num outro tipo de sentimento, como uma droga que não fizesse mais o mesmo efeito.
Queremos algo que está na outra pessoa, ou algo que outra pessoa vai gerar na gente, e é natural que à medida em que já estamos com nosso caderninho cheio de anotações, sinta-se menos necessidade de ter mais coisas.

Estou apaixonado por você. Estou apaixonado pela sua voz, pela sua arte, pelo que você escreve. Daqui a pouco absorvo o essencial, e a paixão acaba, encontro até as coisas que não gosto em você, e o mesmo certamente irá acontecer contigo. E aí, o que se faz? Descarta-se simplesmente essa pessoa da nossa vida? Eu, sinceramente, acho isso uma tristeza, que a cada dia acontece mais e mais.

Eu, sinceramente, não gosto disso. Descartei ou me afastei de muita gente ultimamente. E aos poucos estou me reconciliando com todos, pelo menos os mais importantes, pelo menos com quem ainda é possível. Quero viver em paz. Fiquei um tempão sozinho, sofrendo com a solidão. Hoje me recuso a tirar alguém da minha vida, o que me parece mais compatível com a ideia de morte, e não de vida.

 Pela primeira vez não estou me atrapalhando com isso, porque estou tendo coragem de ser quem eu realmente sou, e acredite, não é fácil. Não quero magoar ninguém. Não quero relações promíscuas, nem superficiais. Ao contrário. Quero me aprofundar nas amizades, que essa sim é a melhor relação que podemos ter nos dias de hoje.

É isso. E chega de palavras, que melhor do que elas é o que fazemos com elas.


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........................................... EPÍLOGO..........................................


...desassossego é meu nome do meio, né... Não deveria estar escrevendo isso, mas tenho uma necessidade tão grande de aprofundar que não consigo sossegar...  Bom, estou escrevendo desarmada...

 Às vezes fico pensando no porque de uma pessoa ter ido parar na minha vida, e que tenho algo a cumprir ali, com ela. E assim viajando vou deixando a dita pessoa ficar e ocupar espaços que não são dela legitimamente. Espaços que são fantasias, interpretações trocadas, expectativas, que vão encontrando reverberações em meias palavras, posturas ambíguas e não claras. Deixo a pessoa ficar porque entro na minha arrogância imensa, e acho que já que ela está ali, preciso ajudar, que se ela continua ali é porque meu papel ainda não findou. Mas no fim a resposta é simplíssima... Só foi ficando porque eu deixei que ficasse... Só continuou tomando as posturas que tomou porque eu as fui aceitando...

Nos encontramos, trocamos o que havia para ser trocado... Mais do que isso era desnecessário. E neste momento desnecessário está o embrião das futuras acusações mútuas.

Acho que esses são exemplos de quando a causa fica mais importante do que a pessoa. O que se acredita fica maior do que em quem se acredita...

Existem coisas que foram feitas para serem momentâneas mesmo... Outras, quando conquistam um espaço próprio real, permanecem. É simples na verdade...

E o que realmente importa?

Não tem importância fundamental se é pela internet ou pessoalmente... Não tem importância real ter ou não razão... o que tem importância fundamental é SER . Só. Primeiro Seja, como já diria Osho...

Não estou mais brava com você.... Mesmo!

Não estava apaixonada por você, estava apenas interessada, você tem muita coisa bacana ( e outras péssimas, e eu também, normal...). E o interesse inicial também já estava passando, porque  tudo aquilo que achávamos que tínhamos em comum, acabou se resumindo a uma grande afinidade somente: a escrita. E no mundo conectado através da internet, escrever com afinidade é um campo fértil o bastante para um mundo inteiro de 'se' e 'talvez'...

 Realmente não entendo porque tanto apego na continuidade de uma coisa que já estava finda. Pra que? A situação estava insustentável... Pra mim estava...

E assim acabou em todo aquele meu chilique. Foi a maneira que eu achei de você também querer o que eu queria : distância. Manipulei? Pode ser... mas funcionou. Cada um com suas verdades e necessidades...










domingo, 25 de março de 2018

Persistência e Teimosia





Sabe qual é a diferença de persistência e teimosia? Quando algo não dá certo, o persistente tenta algo diferente a cada vez, até dar. O teimoso tenta diversas vezes a mesma coisa (e continua não dando certo).

A ideia é q, se vc só repete sempre a mesma coisa, terá sempre o mesmo resultado. Se Thomas Edison tivesse feito sempre a mesma coisa nas 314 tentativas de criar a lâmpada elétrica, não teria conseguido. Ele conseguiu, pq não desistiu da ideia, mas foi modificando o experimento a cada experiência, até q encontrou o jeito q funcionava. Nao desistir da ideia, mas ir tentando formas diferentes, é persistência, e te leva a algum lugar. Só ficar repetindo a mesma receita de bolo e ter a esperança que vai sair outro bolo, é teimosia.

Vamos? Vamos!




"Folheando" hoje meu face, me deparei com uma publicação "7 passos para você se desapaixonar por alguém que não te merece". Fiquei pensando..... não te merece??? Fala sério.... Vamos crescer? 
A pessoa não te querer, não quer dizer que ela é uma babaca! Só quer dizer que ela não te quis. Pronto! 
Se tu te apaixonou, foi porque a pessoa tinha coisas bacanas, e ela continua sendo linda, maravilhosa, com todas aquelas qualidades legais que tu enxergava nela antes. Essas coisas não desapareceram só porque não deu certo, ela não te quis, ou algo quebrou.
De uma vez por todas: As pessoas fazem com a gente o que a gente permite. 
Se tu tem auto estima, as coisas doem, mas não te destroem. E passa. 
Tu cresce com mais aquela vivência, fortalece o teu poder pessoal.... e uma hora a dor passa e tu vê que não tirou nenhum pedaço. 
O que tira pedaço é abrir mão de coisas que são inegociáveis pra ti, é querer dar jeitinho em coisa que tu tá vendo que não tem como, é se iludir. Isso sim, tira pedaço mesmo. 
Em um relacionamento, a responsabilidade SEMPRE é de ambos. 
Então... mais amor por favor? 
Principalmente mais amor com a gente mesmo.
Combinado? Combinado!

O poder do toque





Quando eu era uma terapeuta iniciante, com uns 3 anos de profissão, creio (uns 20 anos atrás), atendi uma senhorinha. Bem velhinha, já com as articulações que já não esticavam direito, magrinha, com início de osteoporose. Conversamos um pouco, ela não se abriu muito... "falaram bem de você, vim conhecer"...
Pedi então que ela deitasse na maca, e fiquei olhando para ela pensando, gente, COMO vou mexer nessa senhora, o QUE posso fazer por essa pessoa? Me conectando com o q ela permitia mostrar....
Então, peguei na mão dela. Peguei de verdade, um toque inteiro, DEI a mão a ela. E não falei nada. Só ficamos ali de mãos dadas por alguns minutos. E ela começou a chorar. Chorou looongo tempo, e eu ali de mão dada, sem falar, com a outra mão fazendo pequenos afagos no resto do corpo dela.
E aquela senhorinha foi se abrindo... Foi chorando e se abrindo, as articulações amolecendo, o corpo encaixando na maca. E então ela começou a falar. Contou histórias de solidão... contou que desde que o marido tinha morrido ninguém TOCAVA nela. De como tinha esquecido que era quente, confortável, seguro, ser tocada.
Ficamos ali de mãos dadas em torno de 1 hora... sem grandes massagens, só com o CONTATO das mãos dadas.
Levantou da maca com o olhar límpido, desanuviado. Dsse: "hoje lembrei de algo que achei que havia morrido em mim." Me abraçou e com um 'obrigada' foi-se embora.
Foi uma baita lição de profissão e de VIDA. Então SIM eu encosto nas pessoas. E não é a massagem, a descontratura muscular, o alongamento que mais é eficaz (apesar de ser a 'desculpa' que usamos -eu também- muitas vezes).
É a QUALIDADE do toque em presença.
É a qualidade da atenção plena, é o "estou com você", que através do contato pele com pele fica mais fácil de sentir, de acolher, de SER. E esse contato só precisa ser INTEIRO.
Somos HUMANOS, precisamos de CONTATO, PRESENÇA, VIDA.
Toque é ALQUIMIA.

segunda-feira, 19 de março de 2018

As 13 metas da bruxa


...concordo com tudimmm


http://www.asduasluas.com/2018/02/as-13-metas-da-bruxa.html?m=1



foto by Thais Feminella



Li em algum lugar que mães ensinam as filhas a trançar a tristeza nos cabelos antes que ela chegue ao corpo e vire doença ou chegue no coração e vire amargura....
Como eu sou uma criatura que gosta de simbolismos e rituais, gostei... e como gostei, aplico.
Hoje, trancei a preocupação nos meus cabelos.
Ainda não me acostumei a ter visão... Então, as vezes vejo algo de alguém de quem gosto e quero bem. Vejo essa pessoa dizendo que quer chegar a um lugar, e pegando um caminho que não vai levar lá. E aviso.
É difícil quando a pessoa não escuta, e as vezes acabo me transformando em uma chata insistente. E destruo outras coisas tambem importantes... Mas, principalmente: insistir não funciona! Cada um tem sua forma e seu tempo de internalizar aprendizados. Falar a mesma coisa, mesmo de forma diferente não vai fazer com que escute, se ela não estiver disposta a ouvir... E ISSO está FORA do meu controle...
Então tranquei a preocupação na trança, e soltei a confiança de que o uni faz tudo certo e traz o tempo certo... o tempo de cada um.
Enquanto isso, vou exercitando a confiança e a autorresponsabilidade.... e aprendendo por minha vez que, o que não está no meu controle, é melhor soltar de vez....
Ahowwww